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segunda-feira, 1 de junho de 2009

#92 : contender

comecei um exercício que um professor meu de guitarra sugeriu há muito tempo. serve para escrever letras de música. num caderno, escreva por 5 minutos pela manhã e 5 minutos à tarde tudo, absolutamente tudo o que vier a sua cabeça. repita por 30 dias sem falta, sem nunca ler o que passou. no fim do mês leia tudo e monte as peças.
adaptei isso para o meu mundo. preencho uma página por dia. transformei isso não somente num ritual diário de esvaziar fluxo inconsciente de idéias, mas também num estudo tipográfico e de layout de página criado de forma totalmente solta. a medida que as páginas passam, mais livre parece ficar. é a mente se soltando. e vai ficando interessante, bonito.
ontem percebi que o caderno evoluiu para, além do objetivo inicial, um bloco de anotações de idéias que eu possa usar mais tarde. uma cerveja com um bom amigo, um casal que se beija e dá pra ver sentimento verdadeiro, uma chuva de fim de tarde, um dia sem ver ninguém, uma tarde péssima que vira uma madrugada dançando sozinho na sala, alguém que aparece no momento certo e some na hora errada, uma sensação de alegria extrema, um vazio. tudo vai pra lá e vira inspiração.
a cabeça flutua e o coração acalma. o caderno que era um exercício vira um apoio, um paraquedas, um colete salva-vidas, um travesseiro macio. no meio dele se misturam frases das canções que eu mais ouço, que tocam fundo, que molham o olho e fazem trilha sonora para os meus longos passeios de madrugada pelo bairro do paraíso. coisa de uma pessoa só, procurando por si mesmo e aprendendo o que perdeu... o mais rápido possível.

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the pains of being pure at heart {2009}
contender / come saturday / young adult friction / this love is fucking right / the tenure itch / stay alive / everything with you / a teenager in love / hey paul / gentle sons

sábado, 15 de dezembro de 2007

#91 : os esportes estão contra mim

durante a minha adolescência, minha mãe queria que eu jogasse tênis para fazer amigos. me botou em aula e vivia me dizendo pra ir ao clube "encontrar outros tenistas". jogava e sempre perdia, achava um saco. foi assim também no colégio: "o esporte incentiva o trabalho em equipe" diziam. mas eu, de um esporte a outro contra a minha vontade, me sentia responsável pelo fracasso do grupo. era por causa daquela manchete furada, ou por não coordenar o pique-dois-passos-pique no handbol ou porque eu nunca ganhava a bola na base do garrafão nem acertava lances livres ou porque a culpa sobrava pra mim depois de afastar a bola para fora do pátio da escola em um lance perigoso, que acabou resultando em escanteio e gol adversário.

por força da necessidade, acabei descobrindo que esportes individuais não necessariamente competitivos são o bicho. nada como praticar uma atividade física sem o esforço idiota de passar uma bola pro lado de lá ou correr feito doido para pôr ela numa rede! nada de frustração e mico de ser o último a ser escolhido, nada de pressão por medo de falhar e ser o pereba da turma! sim, esportes individuais! por algum tempo surfei. muito legal o contato com a natureza, toma-se um caldos furiosos e tal... bem que eu me divertia, mas os bancos de areia mudaram e as ondas se foram... nunca fui tão surfista a ponto de mudar de praia e o surf acabou passando. nem sei onde minha prancha amarela e cheia de bolhas foi parar, mas ainda tenho planos de lá pelos 70 ter um longboard {e podar bonsais!!}. sem esporte nenhum que me aceitasse, nomeei a natação minha atividade física ideal: consigo realizar o que o instrutor me pede, ninguém fica olhando eu ir e voltar de um lado a outro da piscina e se eu engolir água, bater de cabeça na borda ou perder os calções ninguém se sentirá prejudicado. até a tão temida virada olímpica eu consigo fazer se ninguém mais estiver na raia! perfeito!

por conta dessa antipatia que os esportes e eu nutrimos um em relação ao outro, acabei percebendo que a minha pilha de discos trouxe muito mais amigos que a raquete de tênis ou as aulas de educação física ou a minha última prancha de surf juntos. ainda na escola, meu melhor amigo ia comigo pro centro de porto alegre atrás de bootlegs do the cure. juntamos centenas! certa vez viajei porto alegre-são paulo de ônibus sozinho para ver o oasis. antes mesmo de partir, troquei caixinhas de fitas com os caras do fundo. vimos o show juntos. já fiz amigos no trabalho navegando blogs de mp3 ou numa reunião de brainstorm quando disse "shoegaze". fiz amigos por causa de uma camiseta de banda, por que dejotei num boteco ou por cumprimentar o vocalista depois de um show sensacional. tudo isso sem uma gota de suor, sem placar e sem competição.

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simian
we are your friends {2002}

la breeze / sunshine / never be alone / helpless / skin / big black gun / in between / the way i live / the swarm / when i go / she is in mind / end of the day

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

#90 : melhor que o amor?

toda vez que eu vou a porto alegre insisto em dar um pulo na king's discos. se você mora lá e compra discos, deve conhecer. fica na 5ª avenida center, entrando pela 24 de outubro. a king's é uma loja antiga, que se atualiza a passo de tartaruga. é careira, toda arrumadinha, está sempre tocando música ruim e fica num lugar bam bam bam da cidade. além disso, há anos tem atrás do balcão uma velhota e um moreninho: gente daquela espécie que estranhamente habita os lados de lá dos balcões de loja de disco: a dos que não entende nada de música, mas que conhecem o catálogo de trás pra frente. enfim... não gosto de lá. entro por puro e simples sado-masoquismo.

toda vez que eu vou a king's discos sou só eu e mais um dentro da loja, além é claro, da velhota e do moreninho. o outro cliente dessa vez era um senhor de seus 50 e tantos anos de idade. pelo jeito que ele conversava com os dois, deve ser freqüentador assíduo. cometiam aquele papinho froxo do pós-venda, já meio indo embora. enquanto isso eu, do outro lado da loja, sujava as pontas dos dedos com poeira no balaio. no meio daquele assuntinho o cara solta "... muito melhor que o 'love' aquele dos beatles!". mas disse com tanta certeza e propriedade que a frase se repetiu 3 vezes na minha cabeça: melhor que o 'love', melhor que o 'love', melhor que o 'love'. em uma fração de segundo lembrei da minha reação quando ouvi o disco pela primeira vez na casa de um amigo e a minha ansiedade de precisar ir comprá-lo. ou quando meu sobrinho de 2 anos ouviu no carro durante uma viagem, sorrindo e batendo palmas. o que pode ser melhor que "love"? olhei pros três e só vi as cabeças da velhota e do moreninho responderem positivamente ao mesmo tempo, junto com um sorriso amarelinho.

me aproximei, pedi licença e perguntei ao senhor, com sua sacolinha gorda de discos na mão: "com licença! não pude deixar de ouvir o seu comentário comparando o 'love' dos beatles. o que é melhor que ele? eu preciso saber!!" e ele, sorriso aberto lá do alto do 50º andar: "a trilha do filme 'i am sam', de covers. conhece? veja filho, em matéria de beatles eu sou um purista! 'love' não presta, não acha?"

fui embora.

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the beatles
love {2006}

because / get back / glass onion / eleanor rigby / julia (transition) / i am the walrus / i want to hold your hand / drive my car / the word/what you're doing / gnik nus / something/blue jay way (transition) / being for the benefit of mr. kite! / i want you (she's so heavy) / helter skelter / help! / blackbird / yesterday / strawberry fields forever / within you without you / tomorrow never knows / lucy in the sky with diamonds / octopus's garden / lady madonna / here comes the sun / the inner light (transition) / come together / dear prudence / cry baby cry (transition) / revolution / back in the u.s.s.r. / while my guitar gently weeps / a day in the life / hey jude / sgt. pepper's lonely hearts club band (reprise) / all you need is love

domingo, 11 de novembro de 2007

#89: devem ser as churrascarias e as salas de espera

meu cérebro vem se revelando um péssimo dj. toca coisas na minha cabeça de forma totalmente involuntária, fora do meu controle e vontade. ontem, por exemplo, nadei com uma música do pepeu gomes que eu não sei o nome, tomei banho com "meu primeiro amor" da sandy & júnior, ainda bem que da letra só sei essa frase e rapidinho ela foi embora afinal, no banho isso poderia tomar proporções indesejadas. ao sair de casa, fui almoçar com "coração de estudante" do milton nascimento e na hora da sobremesa cantarolei uma dos mamonas assasinas. de volta em casa, achei graça da situação e cantei "chuva de prata" de tetê espíndola inteira. mais tarde fui dar uma volta mas resolvi voltar pra casa depois de balbuciar "tira a calça jeans bota o fio dent..." e não vou contar o resto do dia. a coisa foi brutal! vou marcar no meu calendário pra lembrar esse dia e ver se essa maldição se repete ano que vem. vai ver morreu algum pagodeiro nesta data e sua alma me persegue, vai ver o júnior entrou em depressão profunda, vai ver o redemoinho no meu cabelo capta ondas de AM...

pare de rir, isso não tem graça! pra onde vai a minha reputação deste jeito? 34 anos dedicados ao garimpo de bolachinhas pop não podem acabar assim! 5 anos morando debaixo do balcão da reckless records não podem se esvair dessa maneira! é preciso encontrar a causa disso. é preciso reverter esse processo! é preciso apertar o mute para essas más influências. melhor parar de escrever e me trancar num quarto escuro. ficar longe de salas de espera de repartições públicas, longe de restaurantes kilo sujinhos, longe dos botecos e das garagens com lavagem grátis, longe de lojões de 1,99, longe de churrasqueirinhas de espetinho e bancas de camelôs. chega! vou ali me exorcisar e já volto.

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black sabbath
paranoid {1970}

war pigs / paranoid / planet caravan / iron man / electric funeral / hand of doom / rat salad / fairies wear boots




quinta-feira, 1 de novembro de 2007

#88 : como se livrar do nescau de guaraná

foi preciso procurar ajuda para colocar minha cabeça no lugar. era muita coisa pra fazer, uma pilha de decisões pra tomar e outras tantas pra mudar. conversando se aprende a lidar com isso, as decisões vêm mais fácil, separa-se o que realmente importa do que não serve mais, e depois que tudo parece estar resolvido, aparecem outras coisas que nunca se imaginou, que estavam ali, quietas num canto. é aí que o molho engrossa. começamos a fuçar onde não parecia incomodar e encontramos aquele assunto empoeirado, mas muito importante, no meio daquela bagunça que é a cachola humana. experimente revirar a prateleira de livros, a estante de cds, os altos do armário, o depósito lá na garagem, aquela caixa de sapatos cheia de tralhas que você adorava e está guardada há anos debaixo da cama. fazer terapia é assim: meio sem querer, remexemos caixinhas, reviramos estantes e reencontramos um monte de tralhas. é a hora da faxina.

com a terapia, aprendi que a pior coisa que existe, pior até que cerveja quente e nescau de guaraná, é a ansiedade. quando eu trancava depois do mark perguntar a clássica "mas e aí? como é que tu te sentiu?" e não sabia como explicar aquele azedo na boca, aquele embrulho no estômago, passavam-se alguns segundos e ele mesmo completava: "ansiedade!". isso! ela de novo! é pior que medo, pior que angústia, pior que solidão, pior que... pior que nescau de guaraná.



meu terapeuta achou graça quando eu apareci com a idéia do "the little book of failures", uma página de moleskine dedicada à ansiedade, um novo "capítulo", toda vez que eu pensasse "ugh, mas que merda!", sempre que eu me sentisse uma miniatura, sempre que eu quisesse mergulhar a cabeça num balde d'água e dar um berro a pleno pulmão. perguntei receoso se essa não era uma maneira de colocar um holofote sobre as minhas incompetências e as minhas derrotas e ele, sorrindo, respondeu: "deixa passar uma semana e relê o que te chateou. vais ver que era muito menor do que tu mesmo pensava!". o little book of failures teve 5 páginas e depois não foi mais preciso escrever. era só encarar a maldita de frente e ver ela diminuir diminuir diminuir e pif... sumir!

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belle and sebastian
the life pursuit {2006}

act of the apostle / another sunny day / white collar boy / the blues are still blue / dress up in you / sukie in the graveyard / we are the sleepyheads / song for sunshine / funny little frog / to be myself completely / act of the apostle II / for the price of a cup of tea / mornington crescent

sábado, 20 de outubro de 2007

#87 : de amor e morte

andei lendo alguns textos antigos pra me inspirar comigo mesmo e achei o cookies de número 80, em que eu falava sobre o nascimento do meu ipod. de volta a março de 2004 eu morava em chicago e tinha dinheiro pra essas coisas. de lá pra cá, meu ipod parceiro de muitas batalhas me deu diversas alegrias: muita festa animou, transformou muita caminhada em video clip e muito commute de ônibus ou trem em reunião dançante. durante a sua vida, a apple revolucionou a música, a tv e a telefonia e ele, firme e forte, me dava só o que eu queria, tela preto e branco e música.

acontece que tudo que é bom na vida acaba e no final de 2006 meu ipod começou com uma tosse estranha. se sentia fraco, não tinha mais vontade pra nada e ficava cansado e sem energia depois de uma caminhadinha qualquer. como hoje em dia tudo que se quer saber está na internet, perguntei ao google o que fazer e encontrei um pessoal que poderia resolver o problema. às vésperas de voltar ao brasil de mala e cuia, comprei uma bateria nova pro moço. eu mesmo abri realizei a cirurgia utilizando a íncrível ferramenta exclusica para abertura de ipods que o site oferecia e in no time eu mesmo tinha trocado a bateria do querido. e o melhor, ele funcionou!!! felizes, voltamos a passear com a luci, minha ex-bicicleta, fazer a viagem de 45 minutos a 60mph até o trabalho e a animar ainda mais festinhas. tudo parecia estar exatamente como nos velhos tempos e fomos nós {ou viemos} de volta ao brasil.

dois meses se passaram e meu ipod começou a pigarrear. o pigarro virou tosse. em pouco tempo, o tapinha nas costas já não resolvia, copo d'água só fazia piorar e aos poucos a situação se agravou. meu ipod já não agüentava mais o tranco nem pra ir pro novo trabalho, a 15 minutos a pé de casa. chegava lá estafado e diversas vezes voltou dormindo. depois de muito tentar restaurar a sua saúde, meu parceiro de alegrias se foi para o céu dos ipods e descansa eternamente no fundo de uma caixa de tralhas. foram inúmeros momentos de euforia, centenas de novas bandas descobertas e 3 fonezinhos brancos estourados.

obrigado e adeus amigo!

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pedro the lion
"it's hard to find a friend" {1998}

of up and coming monarchs / the longer i lay here / big trucks / suspect fled the scene / bad diary days / the longest winter / when they realy get to know you they will run / of minor prophets and their prostitute wives / the bells / secret of the easy yoke / the well / promise